O Conde Lopo - Álvares de Azevedo
- romantismo-2016
- 3 de abr. de 2016
- 1 min de leitura
(…)
Era um fantasma
De macilento crânio enegrecido
Aqui e ali por fios de cabelos.
Tinha na fronte a reluzir – embora
O empanasse a podridão na tumba –
Um diadema d’oiro. –
Eu dizia
Que tu – outrora barregã – rainha
Caprichosa mulher de ardentes gozos,
Prostituta, sentaras-te num trono;
E davas como leito aos favoritos
Teus tálamos doirados e macios.
Hoje te apodreceu a rósea carne
Que os ossos te cobria, e eis-te aí, nua
Como nunca te viram teus amantes.
Eis-te aí, nua, prostituída ao verme…
Eis aí pois, rainha, o que eu pensava,
Ideia singular, não o confessas?
Prostituta real, o amor lascivo
De um voluptuoso rei alçou-te ao leito
E do tálamo ao trono – hoje, coitada!
Só o verme te quer quando nas covas
Não acha sânie onde perpasse os lábios
E p’ra fome iludir morde-te o fêmur!
(…)
Comments